Uma mulher que procurou ficar grávida, outra
que ficou grávida sem tê-lo procurado porque já tinha filhos e supostamente não
queria mais bebés, uma adolescente – solteira e sem problemas – cujos planos
não eram precisamente de converter-se em mãe, como é óbvio, viverão a notícia
da gravidez de uma forma totalmente diferente. O primeiro dia de aulas, a
primeira menstruação, o casamento, são, entre outras, situações que implicam
crises. E todas as crises geram maiores ou menores mudanças. Tratam-se das chamadas
crises evolutivas, que todos atravessamos ao longo da nossa vida. Mas existem
outras situações que sem terem sido previstas ou desejadas, pelo menos nesse
momento, acontecem: são as que conhecemos como crises acidentais. Mas é um
facto inegável que, uma vez conhecida "a" novidade, estamos na
presença de uma crise. Para além das diferentes vicissitudes prévias. Para além
de tudo...
Do desejo ao
fato
Algumas mulheres, perante o primeiro dia de atraso do seu ciclo
menstrual, saem a correr para comprar um teste de gravidez; muitas vezes, sem o
confessar sequer aos maridos. Indubitavelmente, aquelas que tomam esta atitude
desejam fervorosamente ficar grávidas, quer seja pelo genuíno desejo de ter um
filho ou por outras razões, como comprovar a sua capacidade de engravidar, ter
a sua fertilidade intacta, ou tantas outras situações possíveis de ser
imaginadas. Mas as coisas mudam quando um belo dia esse teste dá
"positivo". A admiração, o impacto emocional que o resultado produz,
transcende todos os motivos anteriormente mencionados. Porque não esqueçamos
que já desde muito pequenitas, brincando "às mamãs" com as suas
bonecas, as mulheres se foram preparando para o exercício da maternidade.
Nem todas
somos iguais
No entanto, a reacção da mulher que procura conseguir uma gravidez
desde há algum tempo – ainda mais se ter um filho é um projecto partilhado pelo
marido e que tardou em se materializar – difere daquela outra que já é mamã e
julga saber "tudo". Às vezes, é ela quem mais se surpreende perante a
sua própria perplexidade e o torvelinho de emoções e angústias que surgem ao
certificar-se de que voltará a ser mãe. Também é diferente a resposta de uma
adolescente que fica grávida numa relação ocasional, e que, certamente, não o
desejou nem planeou conscientemente. Segundo a classe social a que pertence, a
notícia será tomada pela família com maior naturalidade ou com um certo grau de
vergonha, se não se cumprirem as regras que a sociedade impõe, como ter marido,
estar casada, etc. Neste caso é preciso considerar além disso que, actualmente,
as gravidezes se planificam depois da carreira universitária ou de algum outro
curso, que será a suposta garantia de bem-estar económico futuro do casal e da
família que se tenta formar. Em síntese, na hora de conhecer o resultado do
teste podem dar-se reacções muito diferentes: uma mulher para quem o
"positivo" é uma excelente notícia, porque o procurou durante muito
tempo; a outra que, embora não o tenha procurado, fica contente por ter
acontecido; e finalmente, aquela para quem o resultado é uma calamidade. Não
obstante, embora aquelas que supostamente não desejavam uma nova gravidez, ou
aquelas que tinham o projecto de ter um filho mas depois de esperar algum tempo
mais, quando escutam o clássico " parabéns, está grávida",
experimentam, sem excepção, sentimentos muito intensos. É inegável. Trata-se de
sensações difíceis de descrever com palavras. Tão particulares e únicas, como
únicos são todos os seres humanos.
Chegou a
hora do teste
As mulheres que procuram ficar grávidas, no momento de se
decidirem a conhecer a verdade – ou seja, de fazer o teste de gravidez – podem
apresentar diferentes condutas. Algumas vão, compram-no e fazem-no em silêncio,
de maneira que são as primeiras a ter o resultado. Outras sentem receio, e não
têm ânimo para ir sozinhas comprar o teste. Se a gravidez foi um projecto
desejado por ambos os membros do casal, e a curiosidade é partilhada, muitas vezes
realizam o teste em conjunto. Outras vezes, é uma amiga quem faz de
acompanhante para, supostamente, "apoiar" melhor a resposta, seja ela
qual for. Porque quando se está à procura de um filho, o "negativo"
implica uma desilusão – admitida ou não –, como a vivida mês a mês face a cada
nova menstruação. E tudo isto sem entrar em detalhes sobre as loucas fantasias
que as mulheres têm, às vezes, sobre a sua infertilidade ou incapacidade de
conceber, como um castigo por praticar "coisas pecaminosas", etc.
Digo-lhe ou
não lhe digo?
Seguidamente, surge a interrogação: digo-lhe ou não lhe digo?
Quando uma mãe se certifica de que está grávida pode guardar a notícia em
segredo durante algumas semanas ou, caso contrário, contá-la a toda a sua
família, amigos e conhecidos. Geralmente, quem guarda o segredo costumam ser
aquelas que tiveram uma primeira gestação frustrada porque "perderam"
a gravidez poucas semanas depois de receber a feliz notícia. A verdade é que
quando um filho é um projecto partilhado pelo marido, e finalmente estão em
frente um do outro e ela afirma "positivo", ou simplesmente se cala e
só com um olhar ou um gesto ele compreende, produz-se uma situação difícil de
descrever. Uma mistura de alegria, emoção, vertigem, receio, vontade de partilhar
a notícia com os seres queridos...
Vamos a ser
papás
As opções para espalhar a boa notícia são tantas como os casais
que existem. E há múltiplas maneiras que uma mulher pode escolher, se é que
está disposta a suportar a espera e planificar esse momento, sem correr
impulsivamente e surgir no trabalho do marido divulgando o aparecimento das
"duas risquinhas" no teste. Haverá quem prepare um jantar romântico
como cenário ideal para a notícia, ou quem proponha uma saída diferente com uma
boa desculpa. Em qualquer caso, os sentimentos simultâneos que a novidade
provoca (alegria, euforia pelo desejo cumprido, mas também medo e
responsabilidades) são comuns a todas. E também é comum a maioria experimentar
a notícia como uma vitória pessoal, embora partilhada. Porque é verdade que –
geralmente – a mulher costuma entender a gravidez como uma conquista própria,
relativa à sua capacidade de conceber, de dar vida, de oferecer um filho ao seu
marido.
Uma mini
lua-de-mel
Geralmente, a notícia, fresquinha, costuma unir os futuros pais.
Embora seja momentaneamente, os motivos de briga, fricção, conflitos que possam
existir em qualquer relação, desaparecem, temporariamente, e o casal regressa a
uma espécie de lua-de-mel. Pelo menos até que a realidade se imponha e surjam
os tão comuns e incomodativos vómitos e náuseas.
Sentimentos
desencontrados
O orgulho é um dos sentimentos mais comuns nos homens quando se
certificam da gravidez, assim como a vontade de cuidar, de proteger – às vezes
até extremos quase insuportáveis, mas com a melhor das intenções – as suas
mulheres. No entanto, a notícia costuma causar um tal impacto que, muitas
vezes, os pais não conseguem assumir ou verificar que não se trata de um facto
isolado, e sim que a paternidade é algo de hoje e "para sempre". Esta
consideração – "para sempre"– é algo que a todos assusta. À imensa
alegria, então, se juntam também o receio e a responsabilidade.
Os avós e a
feliz notícia
Sem poder continuar assim, a decisão imediata é como dizê-lo aos
pais e aos sogros, o que dependerá, evidentemente, da relação familiar. Mas à
margem da natureza dos vínculos entre ambas as famílias, converter-se em avós é
uma notícia que também provoca um impacto muito forte. De facto, quem vai ter
um filho pela primeira vez e que conta aos seus pais a novidade, está a
confessar-lhes – pela primeira vez e muito abertamente – que teve relações
sexuais. E isto envergonha muitas mulheres, especialmente frente aos seus pais,
que – mesmo sem o confessar – também tomam consciência de que a sua
"menina" já cresceu, e agora é de "outro homem".
Para toda a vida
A novidade de uma
primeira gravidez é, sem dúvida, o que maior impacto produz nos futuros pais e
também no núcleo familiar. Mas, inclusivamente para os casais que já têm um ou
mais filhos, a notícia de um novo bebé é comovente, emociona, alegra e
estremece tanto os protagonistas como quem está à sua volta. O "vou ter um
filho" ou "vamos ser papás" encerra um sentimento muito intenso,
onde convergem o espanto, a alegria, o triunfo sobre a adversidade, o medo de
fracassar ou de não ser capaz... Trata-se de um momento que perdura no tempo.
Podem passar muitos anos, mas em cada vez que se recorde, inevitavelmente se
reviverá parte daquela intensa emoção.
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